Women In Fashion - Victoria Quintino
- laurahgurney0
- 8 de mar.
- 4 min de leitura
Atualizado: 24 de mar.
Alguns dias atrás, na London Business School, na Inglaterra, um case study do sucesso da marca de calçados Larroudé foi apresentado aos estudantes. Em apenas quatro anos, a marca cresceu e apareceu: vende em diversos países, está nos pés de famosas e fashionistas, e é objeto de desejo. Por trás de tanto sucesso, há pessoas que fazem a diferença. Victoria Quintino é uma das sócias da Larroudé e é a Head de Vendas, trabalhando desde o início ao lado de Marina Larroudé, co-fundadora da marca com seu marido, Ricardo. Direto de Paris, onde estava passando a semana, Victoria conversou comigo, revelando que nunca tinha imaginado que acabaria se tornando empreendedora.
Formada em Administração no Insper em 2017, ela lembra que na época todas as salas de aulas eram nomeadas exclusivamente em homenagem a homens. Isso deixou nela uma forte impressão e a vontade de conseguir ajudar e inspirar mulheres no mundo do trabalho.
Assim como muitos jovens, Victoria não tinha certeza sobre qual carreira queria seguir aos 17/18 anos, quando decidiu-se pela faculdade. Por isso escolheu cursar Administração, por ser um curso que abre portas para diversas possibilidades e ensina habilidades que todos usaremos ao longo da vida.

Em sua turma no Insper, mais ou menos 70% dos alunos eram homens e o curriculo era bastante voltado para o mercado financeiro. Assim, ela ficou com a impressão de que se não fosse trabalhar no mercado financeiro, estava fazendo algo de errado: "Eu fui pro mercado financeiro, mas acabei não me identificando. Eu logo percebi que não era aquilo que eu queria fazer pelo resto da minha vida".
Mas também nem passava pela sua cabeça trabalhar com moda: " Naquela época pelo menos, a moda no Brasi era bem mais direcionada às pessoas que gostavam de desenhar e criar. E eu sou zero essa pessoa."
Para tentar achar um trabalho com o qual se identificasse, Victoria decidiu procurar empresas que tinham processos de trainee, para que ela pudesse experimentar na prática todas as áreas envolvidas em um negócio. Foi nessa busca que ela percebeu que a moda também precisava da administração para funcionar; e acabou indo ser trainee na marca de calçados Arezzo.
Durante seu tempo trabalhando na Arezzo, Victoria percebeu que muitas marcas de moda brasileiras são estruturadas de maneira muito familiar, sem grandes oportunidades de crescimento para seus colaboradores. Americana por parte de pai, ela então começou a procurar marcas nos Estados Unidos e acabou se mudando para Nova York.
Victoria conta que sempre admirou muito Marina Larroudé. Assim como ela mesma, Marina também havia se mudado para os Estados Unidos sem conhecer ninguém, em busca de trabalho. Victoria compartilha um pouco da trajetória de sua mentora: "Quando estava procurando um trabalho, a Marina chegou a enviar mais de 300 e-mails, sem receber resposta. Até que um dia, ao chegar em casa, ela encontrou um convite para um desfile em nome de Candy Pratts Price, que era editor in chief da Style.com. A Marina então perguntou ao porteiro se ele poderia entregar flores, seu CV e uma carta para Candy. O porteiro entregou, e Candy convidou-a para uma conversa. Dali ela convidou a Marina para ajudar em uma campanha que duraria duas semanas, e a Marina acabou permanecendo lá por 9 anos, porque todos amaram ela."
Sabendo dessa história que ela tinha lido numa revista em uma entrevista da Marina, chegando em Nova York, Victoria decidiu usara mesma estratégia. Na época, Marina trabalhava na Barneys, no departamento de moda, e então Victoria enviou a ela flores junto com uma carta e seu currículo. Marina convidou-a então para uma conversa na Barneys, e acabou recomendando Victoria para o time de planejamento da empresa, que estava com uma vaga aberta. "Foi o processo de entrevista mais longo da minha vida", lembra Victoria, rindo. Ela acabou contrata para integrar o planning tema e ali começou sua amizade com Marina.
Equando Marina decidiu começar sua propria marca de calçados, ela convidou Victoria para participar. Transitar de uma empresa já consolidada para uma empresa em fase de construção é muito diferente. "Trabalhar em uma empresa já estabelecida foi muito bom no começo da minha carreira para eu aprender o que se faz, o que não se faz, etc. Mas a experiência de trabalhar em uma empresa começando do zero é como fazer um MBA na prática." Ela descreve o processo de empreender como aquele jogo em que cabeças surgem e você precisa empurrá-las, apenas para que outras apareçam; ou seja, há sempre novos desafios. "Voce compra uma roupa para um bebê e em três meses essa roupa não cabe mais, é assim numa empresa nova - o nosso crescimento é muito rápido."
E hoje Victoria ama o seu trabalho e o que estão construindo na Larroudé. "Faz muita diferença você atingir um publico com uma coisa que voce acredita."
Ela cita a sua alegria ao receber "tantas mensagens de clientes expressando o quão confiante eles se sentem usando nossos sapatos, usando em momentos tão importante da vida deles... É uma coisa que me deixa muito feliz e orgulhosa, saber que eu estou causando isso nas pessoas, que algo que a gente pensou com tanto carinho, produziu em todos detalhes possíveis, traz isso para a vida de alguém."
Com tudo isso, Victoria conta que sempre que vai contratar alguém ela deixa claro que: "Se você está procurando um trabalho das 9h às 17h, onde sabe exatamente o que vai fazer, este não é o lugar." Embora isso possa ser estressante para algumas pessoas, Victoria admite que nem ela sabe às vezes o que fazer, mas que essas dúvidas são parte do processo. Victoria compartilha que algo que aprendeu ao longo desse caminho é que "pouquíssimas coisas não têm volta - talvez você foi por um caminho que não fosse o ideal, mas foi o caminho certo que você precisava para aprender." Essas palavras são muito importantes e verdadeiras; nem sempre vamos acertar em tudo, mas para melhorar, é necessário errar para aprender, e parte de ser empreendedora é isso.
Por fim, Victoria deixa um conselho: "O mais importante é não desistir, a principal diferença entre marcas que alcançam o topo e as que não, são os empreendedores que não desistem quando enfrentam um obstáculo."
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